A medicina alcançou um marco histórico: o nascimento de oito crianças saudáveis com DNA de três pessoas no Reino Unido. A técnica, considerada revolucionária, foi aplicada com o objetivo de empedir a transmissão de doenças mitocondriais hereditárias, que podem comprometer a saúde de recém-nascidos.
Esse avanço foi possível graças à aplicação de um procedimento conhecido como terapia de reposição mitocondrial (TRM), também chamado de fertilização com “três DNA”. Embora o termo soe futurista, ele representa um passo concreto rumo à prevenção de doenças genéticas graves.
Neste artigo, você entenderá como funciona a técnica, por que ela é considerada segura, quem está envolvido, quais países aprovaram a prática e o que dizem os dados científicos mais recentes. Tudo com base em fontes confiáveis e oficiais.
O que é a técnica de três DNA?
A técnica de fertilização , ou transferência de pró-núcleo, consiste em utilizar o material genético de três pessoas para criar um embrião saudável. São eles:
- DNA nuclear da mãe (92,9%): contém os genes que determinam as características do bebê, como altura, cor dos olhos, entre outros;
- DNA nuclear do pai (6,1%): traz metade do código genético herdado pela criança;
- DNA mitocondrial de uma doadora saudável (menos de 0,1%): substitui as mitocôndrias da mãe, que podem conter mutações prejudiciais.
As mitocôndrias são as “usinas de energia” das células, e seu DNA é herdado exclusivamente da mãe. Se essas mitocôndrias apresentarem defeitos genéticos, o bebê pode nascer com doenças graves, afetando músculos, cérebro, coração e outros órgãos vitais.
Como o procedimento é feito?
- O óvulo da mãe e o óvulo da doadora são coletados e fertilizados com o esperma do pai.
- O núcleo do embrião da mãe (onde está o DNA principal) é transferido para o óvulo fertilizado da doadora, que teve seu núcleo removido, mas mantém as mitocôndrias saudáveis.
- O novo embrião é implantado no útero da mãe e se desenvolve naturalmente.
Onde aconteceu a experiência?
A técnica foi aplicada no Reino Unido, sendo autorizada e regulada pela HFEA (Human Fertilisation and Embryology Authority) desde 2015. O Reino Unido foi o primeiro país do mundo a permitir legalmente a fertilização com três DNA, e os procedimentos clínicos foram realizados por especialistas da Universidade de Newcastle, em parceria com clínicas de fertilidade aprovadas.
De acordo com o New England Journal of Medicine, oito bebês nasceram saudáveis entre 2023 e 2025 após a aplicação da técnica. Esses nascimentos fazem parte de um projeto piloto que analisou a eficácia da TRM como forma de prevenir doenças mitocondriais.
Por que essa técnica é tão importante?
Doenças mitocondriais hereditárias são raras, mas extremamente graves. Elas podem causar:
- Fraqueza muscular severa;
- Surdez ou cegueira;
- Retardo mental;
- Insuficiência cardíaca;
- Morte precoce.
Essas condições não têm cura e, até então, não existia uma forma eficaz de prevenir a transmissão genética por mães portadoras de mutações mitocondriais.
Com a aplicação da TRM, os cientistas conseguem interromper essa cadeia hereditária, possibilitando que mães com mitocôndrias defeituosas tenham filhos geneticamente saudáveis e sem risco de desenvolver a doença.
Quantas crianças nasceram até agora?
Segundo a publicação oficial da HFEA e do The Guardian, oito crianças nasceram saudáveis como resultado da técnica de três DNA. Desses:
- Em cinco casos, nenhuma mitocôndria defeituosa foi detectada nos bebês.
- Em três casos, houve pequena presença residual (entre 2% a 16%) de mitocôndrias mutadas, mas em níveis considerados inofensivos.
As crianças vêm sendo acompanhadas por especialistas para garantir que não haja problemas de saúde a longo prazo.
Quais países já aprovaram essa técnica?
Atualmente, a fertilização é permitida apenas em alguns países com regulamentação específica:
- Reino Unido: pioneiro na técnica, onde os primeiros nascimentos aconteceram;
- Austrália: legalizada recentemente e deve iniciar procedimentos em breve;
- Grécia e Ucrânia: realizaram testes experimentais;
- Estados Unidos: técnica não é permitida por lei federal.
Outros países acompanham os resultados com atenção, à medida que surgem dados mais concretos sobre a eficácia e segurança da técnica.
Existem riscos?
Como qualquer técnica inovadora, há riscos e limitações. Os principais são:
- Reversão mitocondrial: em alguns casos, mitocôndrias da mãe retornam, mesmo após a substituição. Isso pode ocorrer com o tempo;
- Implicações éticas: há debates sobre a manipulação genética de embriões, mesmo que limitada à prevenção de doenças;
- Acompanhamento a longo prazo: ainda são necessários estudos para entender os efeitos da técnica ao longo da vida das crianças.
Apesar disso, a comunidade científica considera os resultados altamente promissores.
O que dizem os especialistas?
Segundo a Dra. Mary Herbert, especialista em embriologia da Universidade de Newcastle, o sucesso do procedimento mostra que “é possível evitar doenças hereditárias graves sem interferir na identidade genética da criança”.
O professor Robin Lovell-Badge, da London Research Institute, acrescenta que a técnica “tem potencial para salvar vidas e evitar o sofrimento de milhares de famílias”.
Como isso afeta o futuro da reprodução humana?
A técnica de três DNA representa o começo de uma nova era na medicina genética. Em vez de tratar doenças após o nascimento, agora é possível evitá-las ainda na fase embrionária. Isso abre portas para:
- Prevenção de outras doenças genéticas no futuro;
- Avanços em terapias celulares;
- Discussões éticas sobre engenharia genética e bioética reprodutiva.
Como consultar mais informações?
A agência britânica HFEA, responsável pela regulamentação da técnica, mantém uma página oficial com todas as informações, perguntas frequentes e atualizações científicas sobre a fertilização com três DNA:
👉 Acesse: https://www.hfea.gov.uk
Um salto histórico na genética
O nascimento de crianças com DNA de três pessoas representa um avanço científico sem precedentes. Essa técnica, embora limitada a casos específicos e altamente controlados, oferece uma esperança para famílias afetadas por doenças genéticas graves.
Com resultados positivos e comprovação científica, a terapia de reposição mitocondrial poderá, no futuro, fazer parte de um arsenal global de prevenção genética. E tudo indica que estamos apenas começando a explorar o verdadeiro potencial da medicina reprodutiva moderna.